JORGE RODRIGUES SIMAO

Documentário Ser e Ter – Nicolas Philibert

Ser e Ter é um documentário dferente dos tradicionais. Não recorre ao esquema registo do real / entrevista / imagem de arquivo.  A longa-metragem do cineasta francês Nicholas Philibert  pertence ao chamado ”cinema-verdade”, com a diferença de permitir algumas experiências  estéticas. Para registar o relacionamento entre um professor e  os seus alunos  numa  pequena escola na região rural da França, Philibert foge ao lugar-comum e ousa estender o tempo com planos que focalizam objectos escolares, como o balançar das folhas das árvores e o tanger do gado nas pradarias. Ser e Ter diz nas entrelinhas que nada melhor que o tempo para fortificar laços afectivos entre as pessoas, principalmente entre o aluno e o professor. Logo no início, duas tartaguras – símbolo da temporalidade – indicam a atmosfera que o filme seguirá.

Na pequena cidade de Auvergne, o professor George Lopez de  55 anos segue um método de ensino antigo e considerado em desuso;  acompanha 13 crianças, da pré-escolaridade até  ao ensino primário .  Numa única sala, ensina os seus alunos com idades entre os 3 e 11 anos. Lopez separa as lições conforme a faixa etária, dividindo a turma em três grupos. O professor acompanha individualmente cada aluno, seja em matérias de francês, matemática ou pintura. Leva 35 anos de profissão e daí que Lopez mantém uma desenvoltura natural diante da câmara e, mais ainda, no trato com as crianças, entre o rigor e a delicadeza da sua fala. Não levanta o tom de voz, mas fala directamente, sem subterfúgios. Pela postura sincera, conquista o respeito e a confiança dos alunos.

Com uma índole desta natureza, é difícil imaginar que George Lopez acabou por processar os produtores de Ser e Ter. Face ao sucesso do público e crítica inesperada do filme, o professor  pretendeu levar de honorários  250 mil euros reivindicando a co-autoria por, no seu entender, ser tema principal e actor do documentário. É óbvio que Lopez perdeu nos tribunais. Se ganhasse, qualquer personagem do documentário teria garantido uma parcela dos lucros de bilheteira. Além disso, os verdadeiros protagonistas de Ser e Ter são as crianças. A câmara fixa boa parte do tempo nos rostios alegres ou decepcionados dos alunos.

O brilho do documentário está nas expressões das crianças, filmadas com intimismo e autenticidade perante as suas inquietações. O pequeno  e notável Jojo, de 4 anos, encanta pela inocência e curiosidade. Distraído com os deveres da classe, a criança desobedece a algumas regras impostas por Lopez e ainda participa  numa ena cativante com Marie, quando ambos tentam tirar fotocópias e partem a máquina da escola. São momentos únicos, que retratam a infância no presente, sem fazer apologias à escola como futuro promissor. Pouco importa saber que modelo pedagógico está por detrás do ensino do professor, mas sim evidenciar que tipo de relações humanas são construídas dentro da instituição.

Mesmo com a interferência inevitável da câmara, o documentário reflecte instantes reais. Não se trata de expor um ”filme-tese” sobre a educação. O documentário nem procura ser muito pretensioso. Ser e Ter compila fragmentos poéticos do relacionamento entre o adulto e a criança. O cineasta Nicholas Philibert prefere ser menos hermético e mais sensível ao simples. Força o espectador a observar os pequenos detalhes que fazem a diferença.

Documentário Ser e Ter – Nicolas Philibert

Título Original:  Être et Avoir
Direção: Nicolas Philibert
Ano: 2002
Duração: 104 min
Origem: França
Tamanho 1.4gb

MEGAUPLOAD

http://www.megaupload.com/?f=UDVPZOSZ